O governo voltou atrás e decidiu
manter a isenção de tributação para encomendas do exterior sem fins comerciais
entre pessoas físicas até US$ 50. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, na segunda-feira, 17, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da
Silva, pediu que se tentasse resolver primeiro o problema de sonegação com
medidas administrativas, aumentando o poder de fiscalização da Receita Federal.
"O governo vai manter isenção de pessoas física para pessoa física.
Na verdade, estão usando brecha para burlar a lei. A Receita queria fechar essa
brecha. O presidente falou para atuar administrativamente primeiro para não
prejudicar quem de boa fé está usando essa regra", disse Haddad.
"Estava gerando confusão de que isso poderia prejudicar pessoas de boa fé
que recebem encomendas do exterior até esse patamar e o que está sendo usado
para burlar essa regra, que é o que uma empresa particular está fazendo nesse
momento", completou, sem citar nomes.
Haddad afirmou que está estudando como outros países lidam com o tema
para adotar novas medidas no Brasil. Sobre a expectativa de arrecadação de R$ 8
bilhões com o fim da isenção, Haddad disse que vai depender dessas novas
medidas, mas admitiu que vai ficar mais difícil. "Vai ficar mais difícil,
mas vamos verificar uma forma de fiscalização administrativa mais eficaz."
O ministro afirmou que a Ali Express e a Shoppee disseram concordarcom
as medidas do governo porque consideram que é prática desleal e não querem se
confundir com quem comete crime tributário. Já a Shein não teria entrado em
contato.
Em carta endereçada à Haddad, o cofundador e diretor global de Operações
do Grupo Sea, controlador da Shoppe, Gang Ye, declarou apoio à proposta do
Ministério da Fazenda de acabar com a isenção de impostos sobre encomendas
internacionais de até US$ 50 entre pessoas físicas.
Gang Ye afirmou na carta que 85% das vendas intermediadas atualmente
pelo Shoppe são entre vendedores brasileiros e consumidores brasileiros. Os
outros 15% são importados e, segundo ele, pretendem reduzir e substituir por
ofertas locais competitivas.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta,
negou que houve um recuo do governo federal em relação à taxação de importados.
De acordo com ele, a medida anunciada nesta terça-feira, 18, não é um recuo,
mas "um ajuste". "Não é um recuo, é um ajuste buscando o mesmo
resultado com medidas administrativas sem que haja qualquer reflexo a pessoa
física", disse.
Ao mesmo tempo em que houve um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva para que seja mantido o modelo atual de isenção entre pessoas físicas,
Pimenta ressaltou a necessidade de maior fiscalização para evitar a sonegação.
"A posição do presidente é que não haja nenhuma mudança das pessoas
físicas, mas que, ao mesmo tempo, a Receita busque mecanismos e medidas
administrativas, de fiscalização e ações a qualquer tentativa de
sonegação", afirmou.
Segundo o ministro, a adoção de tais mecanismos de fiscalização devem
alcançar "o mesmo objetivo" que a taxação a importados anteriormente
anunciada, que é de diminuir o rombo fiscal no País. Contudo, conforme pontuou,
sem a taxação, o cidadão não será impactado.
Apesar de um recuo do governo em relação ao anúncio, Pimenta negou que
contraria o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "A decisão de Lula não
desautoriza Haddad, ao contrário, é através do diálogo, do debate que vamos
ajustando as políticas do governo", pontuou. "Havia tentativa de
sonegação, com intenção de dificultar a identificação do remetente."
Estadão*
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