Os
trabalhadores dos Correios entraram em greve na noite de ontem (19), com adesão
de 28 dos 31 sindicatos vinculados à Federação Nacional dos Trabalhadores em
Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect). É a segunda
greve realizada este ano.
Os estados
que não aderiram ao movimento (Acre, Rondônia e Roraima) têm assembleias
previstas até amanhã (21) e a perspectiva da Fentect é que eles participem da
paralisação.
De acordo com
os Correios, a paralisação é parcial e não afeta os serviços da empresa. “Até o
momento, todas as agências, inclusive nas regiões que aderiram ao movimento
paredista, estão abertas e todos os serviços estão disponíveis”, informou nota
enviada pela empresa.
Nos locais
onde houve paralisação, a empresa já colocou em prática o Plano de Continuidade
de Negócios, de forma a “minimizar os impactos à população”. Ainda por meio de
nota, os Correios informam que a greve está concentrada na área de distribuição
e que um levantamento parcial feito na manhã de hoje (20) indicou que 93,17% do
efetivo total da empresa está presente e trabalhando – o que, segundo os
Correios, corresponde a 101.161 empregados.
O processo de
negociação entre empresa e trabalhadores já dura cerca de 50 dias, segundo a
Fentect, que reivindica reajustes salariais de 8%. “Até agora a empresa não
apresentou nenhuma proposta no âmbito econômico. O único retorno que temos está
relacionado à retirada de direitos como assistência médica, indenizações por
acidente de trabalho e suspensão de férias", disse à Agência Brasil a
diretora de Comunicação da Fentect, Suzy Cristiny. Ela esclareceu que a empresa
só está autorizando as férias quando está perto de elas se tornarem
compulsórias, "em geral no 23º mês trabalhado”.
Nas
negociações, foi aventada a possibilidade de instaurar um banco de horas, em
que a jornada poderia variar conforme a demanda de trabalho. A proposta
desagrada aos trabalhadores "porque, além de resultar no não pagamento de
horas extras, provocará situações como a dispensa de trabalhadores em horários
de menor movimentação para, depois, serem cobradas as reposições", avaliou
Suzy.
A empresa, no
entanto, nega ter proposto o corte dos benefícios e disse que o que está em
jogo é um processo de negociação. De acordo com a assessoria de imprensa, os
Correios apresentaram uma proposta de manter o último acordo coletivo vigente
até o final do ano. A data-base é de agosto mas, segundo a empresa, como é
nesse período que as do acordo coletivo se acentuam, não caberia, em sua
opinião, qualquer tipo de paralisação até se esgotar a prorrogação.
A Fentect
avalia que o prolongamento das negociações pode favorecer a privatização da
empresa. “Querem favorecer uma paralisação para jogar a população contra os
trabalhadores dos Correios, por conta da piora do serviço prestado. Com isso,
em um segundo momento, querem criar um cenário favorável à privatização da
estatal”, argumentou a dirigente da Fentect.
A estatal tem
alegado prejuízos financeiros (de R$ 2,1 bilhões em 2015 e de R$ 2 bilhões no
ano passado) para promover ajustes. No ano passado, foi anunciado um plano
de demissão voluntária e o fechamento de agências para reduzir os
gastos. O governo estuda mudanças
no modelo de negócios da empresa, que podem envolver a privatização,
abertura de capital ou manutenção do sistema atual, mas com quebra de
monopólio.
Para Suzy,
esse déficit seria provocado por meio de alterações contábeis ou de rubricas.
Ela cita como exemplo os gastos previstos para o pagamento de previdência
complementar e plano de saúde de aposentados. “Há o prazo de cerca de 20 anos
para o pagamento de cerca de R$ 8 bilhões com esses gastos. Para forçar esse
déficit, eles contabilizam esses valores como se tivessem de ser pagos em cinco
anos, entre 2014 e 2019. O pior é que, caso a empresa seja privatizada, não
haverá a obrigatoriedade de usar esses recursos para este fim”, disse Suzy.
A assessoria
dos Correios afirma que a análise da Fentect "não procede". “O que
está sendo feito é uma tentativa de revitalizar a empresa para, dessa forma,
evitar a privatização”, diz a nota.
AgênciaBrasil*
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