O Facebook coleta informações não
apenas de seus usuários, mas também de outras pessoas sem perfil na plataforma.
A revelação foi feita hoje (11) pelo presidente da companhia, Mark Zuckerberg,
durante audiência da Comissão de Energia e Comércio da Câmara de Representantes
dos Estados Unidos (órgão similar à Câmara dos Deputados brasileira), convocada
para discutir a responsabilidade da companhia na garantia da privacidade na
internet.
A audiência foi motivada pelo
escândalo do vazamento de dados de 70 milhões de americanos por um
desenvolvedor de um aplicativo para a empresa britânica de marketing digital
Cambridge Analytica, que segundo um ex-funcionário, teria usado essas
informações para influenciar as eleições de 2016 a favor de presidente Donald
Trump. O repasse foi revelado por jornais dos Estados Unidos e do Reino Unido
em março.
Nesta terça-feira (10),
Zuckerberg falou ao Senado, onde pediu desculpas e admitiu
falhas no tratamento do escândalo do vazamento e na interferência de
contas russas também na eleição presidencial americana de 2016.
O fundador da rede social foi
questionado por parlamentares sobre a coleta de registros de pessoas fora da
plataforma, criando os chamados “perfis sombra”. “Você disse que todo mundo
controla dados, mas você está coletando informações de pessoas que não estão
nem cadastradas. O Facebook tem perfis de pessoas que nunca assinaram a
plataforma?”, indagou o deputado Ben Luján. “Temos dados de pessoas não
cadastradas por razão de segurança”, admitiu Zuckerberg.
A deputada Debbie Dengell citou
como exemplo os botões de compartilhamento de textos pelo Facebook permitirem
rastrear qualquer pessoa na internet. “Vocês têm rastreadores na web. Não
importam se você tem uma conta. Por meio dessas informações, podem coletar
informações sobre todos nós”, disse.
Ao perguntar quantos recursos
semelhantes estão instalados em outras páginas fora do Facebook, Zuckerberg não
soube responder.
O presidente da empresa foi
questionado se o Facebook estaria gravando conversas pelos microfones dos
celulares. Ele negou a prática. “Não estamos coletando informações de
microfones. Só usamos quando gravamos um vídeo. Meu entendimento é que em
muitos desses casos são coincidências”.
Entretanto, admitiu que o recurso
de reconhecimento facial inclui também pessoas presentes em fotografias que não
estão cadastradas na plataforma. “Para tecnologias sensíveis, como a de
reconhecimento facial, seria importante ter uma forma de consentimento”,
ponderou.
Navegação rastreada
Zuckerberg confirmou que dos
usuários cadastrados são coletados não só registros do que é publicado e
compartilhado, mas também atividades realizadas quando a pessoa não está logada
na plataforma, como os sites visitados. Quando questionado sobre a razão dessa
prática, justificou que esses procedimentos ocorrem “por razões de segurança” e
para subsidiar a difusão de anúncios.
“Rastreamos algumas [informações
de navegação] por questão de segurança e anúncios. Mesmo se a pessoa não está
logada, rastreamos o que está acessando como medida de segurança. Nos anúncios,
coletamos para que eles sejam mais relevantes. Mas há um controle, que a pessoa
pode desligar”, disse.
Ao ser questionado se essa forma
de funcionamento não implicaria uma violação da privacidade dos usuários,
Zuckerberg respondeu que a proteção está na capacidade dos usuários de
escolherem o que e para quem compartilham conteúdos. “Toda vez que alguém
escolhe compartilhar algo, o app permite escolher se se você quer compartilhar
só com seus amigos ou público”.
Modelo de negócios
Os parlamentares quiseram saber
se estaria disposto a mudar seu modelo de negócio, calcado na monetização de
dados, para vender anúncios. Zuckerberg não se mostrou disposto, e por essa
razão, recebeu críticas de diversos congressistas na audiência.
“Vocês mantêm dados. Há
informações que as pessoas nem sabem que estão sendo geradas. Sua plataforma
está virando um mix de entretenimento, rede social e manipulação”, disparou o
senador Joe Kennedy.
Regulação
Diante da descrença de se manter
privacidade, parlamentares defenderam legislações voltadas à garantia dos
usuários. Nesta terça-feira (10), no depoimento à Câmara, parlamentares também
se manifestaram nesse sentido, e Zuckerberg admitiu a importância da
plataforma ser
regulada. Alguns congressistas informaram que apresentarão propostas e convidaram
o fundador do Facebook para contribuir com o debate. Ele reiterou que não é
contra a regulação, mas que é preciso discutir o conteúdo.
AgênciaBrasil*
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