A geração de energia renovável no
Brasil se prepara para dar um novo salto e romper os limites geográficos em
terra para avançar agora em território marítimo. O senador Jean-Paul Prates
(PT-RN) protocolou nesta quarta-feira (24) para tramitação no Senado Federal o
Projeto de Lei 576/2021, que visa regulamentar a autorização para instalação de
projetos de geração de energia na costa brasileira, seja eólica, solar ou das
marés.
O parlamentar participou do
seminário online “A energia que vem do mar”, que contou com a participação de
representantes de empresas, entidades do setor e de países precursores nesse
tipo de tecnologia.
“No Brasil, esse mercado offshore
certamente será o mais atrativo e competitivo em todo o mundo nos próximos 5 ou
10 anos devido às condições favoráveis, não só de vento e clima, mas também considerando
o ambiente operacional de baixo custo, aliado às correntes e a profundidade de
nossa costa litorânea. Esse PL era o tijolinho que estava faltando para
autorizar a instalação de projetos que hoje já estão em desenvolvimento no
país”, disse o senador.
Na apresentação, o senador
afirmou que a regulamentação vai ajudar a tirar do papel projetos de parques
eólicos offshore que já aguardam avaliação no Ibama, avalia o senador. “O texto
propõe trabalhar com regime de autorização, que poderá se dar de duas formas:
independente, com blocos sugeridos pelos operadores interessados, e planejada,
organizada pelo governo”, explicou.
Jean Paul destacou que o Rio
Grande do Norte e o Ceará são os estados que possuem as melhores áreas de costa
marítima para a geração de energia eólica offshore, com fatores de capacidade
que ultrapassam 80%. De acordo com o parlamentar, o Brasil tem grande potencial
para se tornar um polo de atração de investimentos do segmento.
Hoje, a eólica offshore já
responde por cerca de 10% da geração de energia do Reino Unido, afirmou o
Cônsul Geral do Reino Unido, Simon Wood. Na Dinamarca, energia eólica começou a
ser implantada na década de 70 e hoje o país é líder global no desenvolvimento
de projetos eólicos offshore.
Para o diretor do setor de energia e sustentabilidade do Consulado Geral da Dinamarca, Lucas Barbosa, a iniciativa do senador é fundamental para atrair investimentos para o Brasil. “O marco regulatório é um passo importantíssimo para trazer investidores, assim como a discussão, em um segundo momento, de metas de capacidade instalada, bem como o acordo ou contrato de compra e venda de energia de longo prazo (PPA)”, concluiu.
Regras
O texto propõe regras semelhantes
aos dos leilões de petróleo, que inclui bônus de assinatura para a União, um
pagamento pela ocupação e retenção da área, que será destinado ao órgão
regulador, e também pagamento de Participação Proporcional – royalty – que
corresponde a 5% da energia efetivamente gerada e comercializada por cada
sistema energético instalado, a ser pago mensalmente a partir da data de
entrada em operação comercial da usina.
Segundo o senador Jean Paul, o PL
propõe a realização de leilões pela maior oferta, como no regime de concessões
de petróleo e gás. As áreas ofertadas na autorização planejada, ou seja,
organizadas pelo governo, já terão avaliações ambientais prévias. No caso da
autorização independente, essas avaliações serão de responsabilidade dos
operadores.
Já no processo de obtenção das
outorgas de autorização, de acordo com o projeto de lei, serão exigidos estudos
de avaliação técnica e econômica; o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA); e
a Avaliação de Segurança Náutica e Aeronáutica.
Discussões
A regulamentação é resultado de
um longo trabalho liderado pelo Centro de Estratégia em Recursos Naturais e
Energia (Cerne), em discussão há quase 5 anos. As reuniões provocaram a
formação de uma Comissão Executiva com a participação de centros de pesquisa,
órgãos reguladores do governo federal e especialistas do mercado.
Segundo o presidente do Cerne,
Darlan Santos, o Projeto de Lei se baseou nas experiências de regulamentações
internacionais, adaptadas à realidade brasileira. “Procuramos aprender com a
experiência de outros países para preparar um marco regulatório que dê
segurança jurídica para os altos investimentos que a geração offshore demanda”,
afirmou.
Hoje o Brasil é um dos líderes na
geração de energia renovável, sobretudo nas fontes eólica e fotovoltaica, e a
força dos ventos representa 18 gigawatts (GW) de capacidade instalada em 695
usinas no país. Isso garante para as eólicas cerca de 10,3% da sua participação
na matriz elétrica nacional, salientou a presidente da Associação Brasileira de
Energia Eólica (Abeeólica), Élbia Gannoum. “As instituições estão preparadas e
se organizando para essa nova fase. A iniciativa do senador Jean Paul é muito
bem-vinda”, disse a executiva.
O texto incorpora a
regulamentação de tecnologias abrangentes como a maremotriz (por meio das marés
e ondas marítimas) e fotovoltaica (usinas solares flutuantes). A lei também vai
incluir um artigo sobre a fase de descomissionamento que prevê, por parte do
investidor, a obrigação quanto ao planejamento e remoção das estruturas
ressalvadas as permanências admitidas, além da destinação correta dos
materiais.
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