O
Ministério Público Federal no Rio Grande do Norte (MPF/RN) instaurou
procedimento para apurar as razões do fechamento da Coordenação Técnica Local
(CTL) da Fundação Nacional do Índio (Funai) no estado, que funcionava em Natal.
A decisão do MPF é fruto de uma reunião ocorrida nessa quarta-feira (5), na
sede da Procuradoria da República, na qual o procurador Victor Mariz recebeu
lideranças indígenas e representantes da Funai.
Através do Decreto 9.010, do último dia 23 de março, o
presidente da República determinou o fechamento de 51 CTLs no país, incluindo a
do Rio Grande do Norte, pela qual os indígenas potiguares lutavam desde 2005 e
que vinha funcionando desde 2011. Para os participantes da reunião, como
Francisco Ismael de Souza, da comunidade do Amarelão em João Câmara, a medida
foi particularmente prejudicial pelo fato de ser um estado que “historicamente
é colocado na situação de não mais existência dos povos indígenas e onde
elementos como a invisibilidade e o preconceito institucional são
intensificados cotidianamente”.
O procurador da República Victor Mariz anunciou que levará o
caso ao conhecimento da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF (que trata
dos assuntos ligados às populações indígenas e comunidades tradicionais), em
Brasília, de forma a buscar acertar as estratégias para uma atuação
institucional eficiente nacionalmente em relação ao assunto. Também requisitará
à Funai esclarecimento quanto aos critérios técnicos utilizados na decisão do
fechamento da CTL em Natal
Falta de diálogo - Os índios alegam que a decisão da Funai fere o artigo 6º da
Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que prevê a
consulta prévia dos “povos interessados” sempre que alguma decisão legislativa
ou administrativa possa afetá-los. Em um “manifesto” entregue ao MPF,
servidores da Regional Nordeste II da Funai (sediada em Fortaleza e que abrange
Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba) demonstram o descontentamento com
as medidas do Governo Federal que incluiriam, além do fechamento de CTLs, o
corte de cargos e a aceitação de pressões políticas na nomeação de novos
dirigentes, supostamente contrários à causa indígena.
Prejuízos - A luta pela criação da CTL no Rio Grande do Norte ganhou força
no ano de 2005, quando integrantes das comunidades do Amarelão (João Câmara),
Catu (Goianinha e Canguaretama), Caboclos e Bangue (Assu) realizaram a 1ª
Audiência Pública sobre os povos indígenas em Natal. Uma segunda audiência, em
2008, já contou com a participação da comunidade de Sagi-Trabanda (Baía
Formosa) e outros grupos foram somando esforços em favor do movimento, desde
então.
Com a coordenação instalada em Natal, os índios relatam a
existência de avanços significativos na luta pelo respeito às políticas
públicas indigenistas, como uma melhor organização e autonomia para realização
dos eventos culturais e educativos, bem como maior participação das lideranças
indígenas em conselhos, como os de saúde indígena, educação e segurança
alimentar.
Registram também avanços na busca pela demarcação de terras e na
melhoria do diálogo com instituições governamentais e parceiras, como
universidades e prefeituras. Apontam, ainda, o desenvolvimento de importantes
atividades educativas, de saúde, de agricultura familiar e de meio ambiente.
Conquistas que estariam em risco após a desativação da CTL de Natal.
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