Com a perspectiva de uma reforma da Previdência Social, uma das
prioridades do governo do presidente Michel Temer, alguns trabalhadores estão
inseguros e buscando informações em postos do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS). Para especialistas consultados pelaAgência Brasil, no entanto, a
pressa em se aposentar não é a melhor saída e pode até causar prejuízos.
Especialista em Finanças Públicas, o professor José Matias-Pereira, do
departamento de Administração da Universidade de Brasília, afirma que os
trabalhadores estão certos ao buscar informações sobre as condições das suas
aposentadorias no momento em que uma reforma previdenciária é discutida. Mas
ele alerta para os riscos de uma decisão irrefletida.
“As pessoas próximas de atingir a época de se aposentar têm de ir ao
INSS buscar informações. Isso é uma coisa recomendável, pois, se a reforma
acontecer e a pessoa não estiver preparada, pode ser que venha a ficar muito
mais tempo na ativa. Agora, as pessoas precisam se conduzir de uma maneira
equilibrada, sem açodamento”, aconselha.
Ele destaca, por exemplo, que os trabalhadores que não atingiram as
regras da fórmula 85/95, - que permite escapar do fator previdenciário e
receber aposentadoria integral - saem no prejuízo ao apressar a saída da ativa.
Matias-Pereira lembra que o governo não enviou a proposta de reforma ao
Congresso Nacional e que as discussões dos parlamentares devem ser longas.“É um
processo lento, que imagino que vai atravessar o ano que vem. Se tudo correr
bem e o governo tiver boa capacidade de conduzir esta questão, só vamos definir
isso no segundo semestre de 2017”, estima.
Transição
O economista Renato Fragelli, professor da Escola de Pós-Graduação em
Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca que, quaisquer sejam as
mudanças implementadas pela reforma da Previdência, elas não ocorrerão sem uma
transição. Quanto mais perto o trabalhador estiver de se aposentar, mais suave
tende a ser a transição, ressalta o economista.
“Um exemplo de como poderia funcionar a transição: o sujeito que poderia
se aposentar em uma determinada data, por exemplo, aos 55 anos, teria que
trabalhar mais 20% do tempo que falta para chegar aos 65. Ou seja, ele teria
que trabalhar dois anos a mais. Para quem está muito perto [de se aposentar],
deve ser pouco significativo o tempo adicional”, avalia Fragelli.
De janeiro a julho deste ano, o INSS concedeu 724.324 aposentadorias, segundo
dados disponíveis no site do Ministério da Previdência. O número
supera em 9,47% as 661.639 concedidas de janeiro a julho de 2015. O período
considerado no ano passado abrange, parcialmente, uma greve dos servidores do
INSS, deflagrada em julho.
A reportagem solicitou à Previdência o número de novos requerimentos de
aposentadoria, mas o ministério não disponibilizou a informação. Segundo o
órgão, elevações na procura dos brasileiros por aposentadorias em relação a
2015 devem ser atribuídas à greve dos servidores, e não ao anúncio da reforma
da Previdência pelo governo.
Temor
A empregada doméstica Ozima Valério dos Santos, 58 anos, foi ao INSS
recentemente levantar seu tempo de contribuição. Ela sabe que seus pagamentos
tiveram frequência irregular. “Comecei a contribuir em 1993, mas em muitos
momentos não teve pagamento, porque trabalhei sem estar fichada [com carteira
assinada]. Tinha épocas em que pagava por conta própria e outras, não”.
O INSS informou a Ozima que seu tempo de contribuição soma cerca de sete
anos. A opção para ela seria a aposentadoria por idade, modalidade que prevê
que mulheres podem se aposentar caso tenham completado 60 anos e contribuído
por pelo menos 15 anos. Para homens, a idade é 65 anos. Outra modalidade de
aposentadoria, pela fórmula 85/95, prevê um tempo de contribuição bem maior: 35
anos para homens e 30 anos para mulheres.
Ozima conta que gostaria de complementar do próprio bolso o que falta
para os 15 anos de contribuição, assim que fizer 60 anos. Mas teme que, com as mudanças
na Previdência, esta alternativa fique comprometida. “Eu acho que o jeito atual
deve ser melhor. Ninguém sabe direito o que o governo vai fazer”, diz.
Ozima afirma que não gostaria de esperar até os 65 anos para se
aposentar. O patamar tem sido divulgado como a idade mínima pretendida pelo
governo, e foi defendido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, em
entrevista à TV Globo no início deste mês.
AgênciBrasil*
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