INSS paga
quase R$ 580 mil a famílias de presos do sistema penitenciário do Rio Grande do
Norte. O valor é a soma de 640 auxílios-reclusão, benefício pago a dependentes
de contribuintes da previdência federal que estão presos. Em todo o país, são
depositados cerca de 49 mil benefícios, que totalizam R$ 48,7 milhões.
Os dados são
de setembro e foram divulgados pelo próprio INSS a pedido do G1. De acordo
com levantamento, o número de apenados que tiveram acesso ao benefício
representa cerca de 7% das mais de 8,3 mil pessoas que cumprem pena no sistema
estadual - número disponibilizado pela Secretaria de Justiça e Cidadania
(Sejuc) do Estado.
A concessão
do benefício é polêmica e causa discussão. Há pessoas que discordam do
pagamento, que se tornou conhecida em muitos artigos contrários como
"bolsa bandido". Porém, para o padre Hugo Galvão, coordenador da
Pastoral Carcerária, o benefício é muito importante, especialmente no caso de
famílias que dependiam exclusivamente da renda dos presos. "A gente
conhece o lado bom e o lado ruim desses benefícios", considera.
O padre conta
que conheceu, por exemplo, a história de uma idosa, cujo filho trabalhava como
motorista e sustentava a família. Ele cometeu um crime, foi preso, e o
benefício é agora o sustento da mulher e das duas netas, que ficaram sob seus
cuidados. "Muitas vezes esses benefícios não chegam a um salário mínimo,
mas são muito necessários. E as famílias não têm culpa pelo crime cometido por
essas pessoas", argumenta.
O padre ainda
lembra de outro caso, em que deu carona a um senhor que foi a uma unidade
prisional do estado receber um atestado que seu ex-genro, assassino de sua
própria filha, estava preso no local. Apesar dos sentimentos envolvidos, o
homem precisava fazer isso a cada três meses, para contar com a ajuda no
sustento dos netos, que também ficaram sob seus cuidados.
Pessoas que
convivem neste meio também contaram ao G1 que há casos em que
mulheres conhecem presos dentro da prisão e se casam para ter acesso ao
auxílio-reclusão. Entre julho e agosto a Polícia Federal deflagrou operações
que investigam
fraudes nesses benefícios no Rio Grande do Sul e no Mato
Grosso do Sul.
Para Lígia
Moreno da Moura, coordenadora do Programa de Educação Previdenciária da
Gerência Executiva do INSS em Natal, a maior parte da população desconhece as
regras de aplicação desse benefício e por isso há tanta crítica. "Mas não
cabe ao INSS julgar se é justo ou não. Nós apenas verificamos se o contibuinte
tem direito, de acordo com as normas estabelecidas por lei", considerou.
De acordo com
a Defensoria Pública do RN, apenas cerca de 5% das pessoas presas no Brasil têm
direito ao benefício. Na verdade, quem recebe o recurso são os dependentes dos
presos que contribuíam com a previdência.
G1RN*
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