Se as novas regras da PEC do Teto dos Gastos tivessem entrado em
vigor há 20 anos, a economia aos cofres públicos teria sido bastante eficaz,
mas o salário mínimo em vigor no País não chegaria à metade do valor de hoje:
estaria em apenas R$ 400,00, em vez dos R$ 880,00 estipulados atualmente. O
cálculo, obtido com exclusividade pelo Broadcast, é do economista Bráulio
Borges, pesquisador associado do Departamento de Economia Aplicada do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
O pesquisador fez uma simulação aplicando as regras da PEC ao
orçamento de 1998, quando começa a série histórica dos gastos do governo
central, mantida pelo Tesouro Nacional. À época, os gastos equivaliam a 14% do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Em 2015, já alcançaram 19,5% do PIB.
Caso os critérios da PEC tivessem sido adotados, esse porcentual teria sido
reduzido para 7% do PIB no último ano.
"Só que essa conta
não é muito precisa, porque se o gasto do governo tivesse sido muito menor,
esse resultado do PIB também poderia ser diferente. Aí a gente entra numa
discussão política complexa, de qual seria o tamanho ideal do Estado na
economia", ponderou Borges.
De 1998 para cá, o salário
mínimo teve um crescimento real médio de 4,2% ao ano. "É muito provável
que o salário mínimo teria ficado congelado em termos reais, só recebendo a
diferença da inflação", estimou o pesquisador do Ibre/FGV.
O levantamento aponta
ainda que metade da alta de 5,5 pontos porcentuais no gasto do governo central
entre 1998 e 2015 é explicada pelo aumento do salário mínimo. Mas, se por um
lado a política de valorização acima da inflação onerou as contas do governo,
por outro também ajudou a reduzir a desigualdade e a movimentar a atividade
econômica, ressaltam especialistas.
"Se o salário mínimo
tivesse ficado congelado, muito provavelmente traria implicações, porque houve
melhoria da distribuição de renda. Teve um custo fiscal, mas teve o benefício
da distribuição", reconheceu Borges.
O coordenador do Grupo de
Estudos de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José
Ronaldo Souza Júnior, concorda que as políticas de transferência de renda
tiveram benefícios no passado recente, sobretudo no sentido de reduzir a
desigualdade na distribuição de renda. No entanto, ele reforça que o cálculo de
um impacto das regras da PEC sobre os gastos do governo não é trivial, porque
as variáveis envolvidas no passado e no momento atual são diferentes.
"É difícil dizer por
quanto tempo foi benéfico (o aumento no gasto público com transferências de
renda), talvez até 2014", arriscou Souza Júnior.
Na avaliação do Conselho Federal de Economia (Cofecon), é falso o
diagnóstico de que o aumento no gasto público seja proveniente das despesas com
saúde, educação, previdência e assistência social. A entidade defende que os
gastos com juros da dívida pública são responsáveis por 80% do déficit nominal,
o que agravou a situação fiscal do País ao lado de renúncias fiscais
excessivas, do combate ineficaz à sonegação fiscal, da frustração da receita e
do elevado grau de corrupção.
"O salário mínimo foi
o principal responsável pela redução pífia da desigualdade. Isso tem um impacto
positivo para a atividade econômica, porque esse salário mínimo vai
inteiramente para o consumo, para girar a atividade econômica. No entanto,
quando o governo paga R$ 502 bilhões de reais em juros da dívida pública, isso
não gira a roda da economia. Porque 85% desse volume estão concentrados em
megainvestidores, apenas 0,3% dos detentores de títulos da dívida pública",
ressaltou Júlio Miragaya, presidente do Cofecon.
Miragaya acrescenta que o
congelamento real dos gastos com educação e saúde impedirá que a prestação
desses serviços acompanhe o crescimento populacional no País nas próximas
décadas, assim como a assistência a um maior número de pessoas idosas. Na
avaliação dele, uma solução mais eficaz para aumentar a arrecadação e ajudar a
resolver a equação fiscal seria uma reforma tributária, que trouxesse de volta
a cobrança de imposto de renda de 15% sobre lucros e dividendos recebidos por
donos e acionistas de empresas.
"O Brasil e a Espanha
são os únicos a isentar lucros e dividendos. Temos que efetivamente cobrar mais
dos ricos, em vez dos pobres e da classe média, que são os que sustentam o
sistema", disse Miragaya.
Estadaõ*
Estadaõ*
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