A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai devolver
imediatamente os valores cobrados a mais dos consumidores para o pagamento da
usina de Angra 3 - ao todo, foi recolhido de maneira indevida R$ 1,8
bilhão a mais de todos os clientes pelo País. O anúncio foi feito pelo
diretor-geral da agência, Romeu Rufino. De acordo com ele, o processo será
julgado no dia 28 de março e deve reduzir as tarifas de clientes de todo o
País.
"Foi um
equívoco", afirmou Rufino, ressaltando que os valores já foram devolvidos
para os consumidores cujas distribuidoras já passaram por reajuste tarifário,
caso da Energisa Borborema e da Light.
O processo da Aneel previa
que a cobrança seria devolvida na data de aniversário do reajuste de cada
empresa. Para os clientes da Eletropaulo, por exemplo, seria apenas em julho.
Mas a diretoria da Aneel decidiu mudar o procedimento e corrigi-lo o mais
rapidamente possível.
"Em vez de aguardar,
faremos de uma vez só", disse Rufino. "É um processo bastante
trabalhoso, mas, excepcionalmente, vamos instruir o processo para retificar a
tarifa de todas as concessionárias e orientar a pronta devolução daquilo que
foi arrecadado com base em uma previsão errada."
Cobrança
indevida. Em dezembro de 2015, a
Aneel foi questionada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)
a respeito de Angra 3. A CCEE é a responsável por fazer a estimativa de custos
da conta responsável por recolher recursos do Encargo de Energia de Reserva
(EER). Cabe à Aneel aprovar esse orçamento.
É por meio desse encargo,
cobrado na conta de luz, que Angra 3 seria remunerada quando entrasse em
operação. Pelo contrato de concessão, a usina deveria estar pronta e começar a
gerar energia a partir de janeiro de 2016. Mas o Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS) não conta com a usina até 2021. Por isso, a Aneel decidiu
autorizar a CCEE a não pagar Angra 3.
Ainda assim, a cobrança
foi feita e repassada a consumidores de todo o País, na data de reajuste
tarifário de cada distribuidora. O dinheiro ficou no caixa das distribuidoras
de energia e não foi repassado nem à CCEE, nem à Angra 3.
Considerando os
consumidores de todo o País, foram recolhidos R$ 1,8 bilhão a mais para Angra
3, que não está pronta e cujas obras estão paralisadas devido a denúncias de
corrupção. A devolução vai contribuir com um impacto médio de queda de 1,2
ponto porcentual nas tarifas.
Projeto do governo
militar, Angra 3 teve as obras paralisadas em 1986. O empreendimento foi
retomado em 2009 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deveria ficar
pronto em 2014, mas sofreu novos adiamentos.
Em 2015, as obras foram
novamente paradas, devido a problemas financeiros da Eletronuclear, subsidiária
da Eletrobras, e denúncias de corrupção descobertas no âmbito da Operação
Pripyat, um dos braços da Lava Jato. Vice-almirante da Marinha, o ex-presidente
da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva foi condenado e preso por
envolvimento no esquema.
Estadão*
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