Cercada por dezenas de ex-ministros, parlamentares e servidores do Palácio
do Planalto, a presidenta afastada Dilma Rousseff faz neste momento um
pronunciamento à imprensa em que classificou o processo contra ela de
"impeachment fraudulento".
Dilma Rousseff admitiu que pode ter cometido erros, mas enfatizou que
não cometeu crimes e que está sofrendo injustiça, a "maior das
brutalidades que pode ser cometida". "Quero dizer a todos vocês que
foi aberto pelo Senado Federal o processo de impeachment e determina a
suspensão do exercício do meu mandato pelo prazo máximo de 180 dias."
Na sequência, ela evocou a condição de presidenta eleita.
"Eu fui eleita presidenta por 54 milhões de cidadãs e de cidadãos
brasileiros. E e nesta condição, de presidenta eleita, que eu me dirijo a vocês
neste momento decisivo para a democracia brasileira e para nosso futuro como
Nação."
"Não cometi crime de responsabilidade. Não tenho contas no
exterior, jamais compactuei com a corrupção. Esse processo é frágil, juridicamente
inconsistente, injusto, desencadeado contra pessoa honesta e inocente. A maior
das brutalidades que pode ser cometida por qualquer ser humano: puni-lo por um
crime que não cometeu", disse.
Em falas interrompidas por aplausos e gritos de apoio, a presidenta
lembrou que foi eleita por 54 milhões de brasileiros e disse que o que está em
jogo não é somente o seu mandato.
"O que está em jogo não é apenas o meu mandato. É o respeito às
urnas. À vontade soberana ao povo brasileiro e à Constituição. São as conquistas
dos últimos 13 anos. O que está em jogo é a proteção às crianças, jovens
chegando às universidades e escolas técnicas. O que está em jogo é o futuro do
país, esperança de avançar cada vez mais. Quero mais uma vez esclarecer fatos e
denunciar riscos para país de um impeachment fraudulento. Um verdadeiro
golpe", declarou.
No pronunciamento, Dilma estava acompanhada de seus ex-ministros e
parlamentares aliados, como a ex-ministra Eleonora Menicucci (das Mulheres),
Kátia Abreu (da Agricultura) e Giles Azevedo (assessor especial). Dilma
deu a declaração no Salão Leste do Palácio do Planalto que estava lotado de
servidores que vieram dar apoio à presidenta afastada. Eles entoaram palavras
de ordem: “É golpe”, “Golpistas, fascistas não passarão”, “Dilma, guerreira, da
pátria brasileira”.
Ela criticou o governo Temer, por não considerá-lo legítimo, e disse
que a crise política continuará apesar da mudança. "O Brasil não pode ser
o primeiro a fazer isso. Queria me dirigir a todo cidadão do meu país dizendo
que o golpe não visa apenas me destituir, destituir uma presidenta eleita pelo
voto de milhares de brasileiros. O golpe ameaça levar de roldão não só a
democracia, mas também as conquistas que a população alcançou nas últimas
décadas. Durante todo esse tempo tenho sido fiadora zelosa do Estado
Democrático de Direito, meu governo não cometeu nenhum ato repressivo contra
movimentos sociais, contra manifestantes de qualquer posição política. O maior
risco para o país nesse momento é ser dirigido por um governo dos sem-voto, que
não foi eleito pelo voto direto da população do Brasil. Um governo que não terá
legitimidade para implementar as políticas que o país precisa. Um governo que
nasce de um golpe, que nasce de uma espécie de eleição indireta. Um governo que
será ele próprio a grande razão para a continuidade da crise política em nosso
país."
Ao enfatizar seu orgulho por ser a primeira mulher eleita presidenta do
Brasil, ela reafirmou que continuará usando de instrumentos legais para
continuar exercendo seu mandato. "Tenho orgulho de ser a primeira mulher
eleita presidenta do Brasil. Nesses anos, exerci meu mandato de forma digna e
honesta, honrei os votos que recebi. Em nome desses votos e em nome de todo o
povo do meu país, vou lutar com todos os instrumentos legais de que disponho
para exercer o meu mandato até o fim, até o dia 31 de dezembro de 2018."
Sóbria e firme, o único momento em que Dilma demonstrou estar
emocionada, chegando a embargar levemente a voz foi quando ela lembrou a
tortura e o câncer que enfrentou antes do início da campanha em que disputou o
primeiro mandato. "O destino sempre me reservou muitos desafios,
muitos e grandes desafios. Alguns pareceram a mim instransponíveis. mas eu
consegui vencê-los. Eu já sofri a dor indizível da tortura, a dor aflitiva da
doença. E agora eu sofro mais uma vez [com a voz embargada] a dor inominável da
injustiça. O que mais dói neste momento é a injustiça. É perceber que
estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política. Mas não esmoreço."
AgênciaBrasil*
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